terça-feira, outubro 04, 2011

Carta para a morte



 



  “Eu estou correndo em círculos, voltando ao começo;...    onde tudo terminou.


  Creck. Creck. Creck.
  É o som dos meus pés batendo contra o chão úmido e coberto de folhas da campina. Da nossa campina.  E quando finalmente chego lá, -aqui-, só encontro um monte de nada. Um lugar destruído pelos tempos sem nossas visitas.
  Caio. De joelhos. Deixo-me jogada, sem importar, sentindo apenas as lacunas vazias que deixou em meu peito e nessa paisagem destruída.

  Lembro-me de como éramos bobos apaixonados, das besteiras que falávamos e das brincadeiras divertidas em que eu sempre terminava nos seus braços.
Deveria ser mais fácil. Ao menos, era no que eu acreditava. A única coisa que na verdade eu acreditava. Nosso amor.

  Lagrimas rolam por meu rosto, marcando-me mais uma vez.   Este já é o sexto dia.E parece que nunca irá acabar.
Essa madrugada parece tão eterna quanto o que juramos que seriamos; só espero, -cruzo os dedos-, que acabe tão rápido quanto nós.
  Acho, que no fundo, ainda tenho esperanças de acordar, olhar para o lado, e encontrar o teu sorriso, seus olhos de céu estrelado. Mas isso seria impossível, você desistiu de me salvar.

...
  Era uma vez uma noite.
  Suas mãos passeavam livremente por meus cabelos, e você cantava para mim a canção das estrelas, tentando fazer-me dormir. Eu nunca me esquecerei das suas palavras. Ainda posso ouvir como um coro de anjos o canto daquela frase: Você é tudo pra mim, amo você.
Mas mesmo assim, não durou pra sempre. Não importa o quão nos amamos e o quão tenhamos prometido. Promessas são apenas palavras vazias.  Não era real.
Mas para mim valem mais.

  Eu faria de tudo para voltar no tempo e concertar as coisas, para cancelar a sua ida aos céus.  Não acredito que me deixou aqui nesse inferno que é a vida e foi aproveitar do paraíso sem mim. Esse não era o combinado, se lembra? Mas é claro que não.

Talvez enquanto estou aqui me lamentando, você esteja passeando com um belo anjo, de longos fios loiros e boca rosada. Talvez estejam num jantar ao luar.  Rá!
E então, como é aí em cima? Valeu à pena beber todas e pegar naquele carro só porque discutimos mais uma vez?   Você sempre soube que teria volta, que eu ainda te amava e que era apenas mais uma briga idiota.
Se queria fugir do mundo, era só me dizer, droga! Eu teria entrado naquele veículo com você e me entregado a morte.  Seria tão simples.   Tão. Mais. Simples.

  Há alguns dias me peguei pensando num presente dos Deuses: se pudesse escolher algo. Qualquer coisa, -tive certeza-, pediria a eternidade; ao seu lado. E os séculos passariam e ainda estaríamos juntos. Peguei-me também, implorando por uma partida segura, direto para o seu calor.

Isso é tão dramático e poético, não? Mas o que é o amor, senão a poesia dramática da alma?


  Fecho os olhos. Minhas costas batendo contra a terra macia.  Minha consciência desliza por minha mente, levando tudo embora e abandonando-me apenas com a escuridão e seus lábios. Fi-nal-mente.

Queria fazer isso durar mais do que horas. Tenho certeza: estou apenas sonhando. Mas também não importa, vou aproveitar-me desse momento até ter de encarar o sol novamente, e todos aqueles olhares de pena. Pelo menos, encontrarei você.”

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