Esses móveis
antigos parecem ecoar o friúme da morte. Um gemido lânguido
escapa das tábuas de mogno e a casa inteira parece chorar em
lamentos infinitos a cada passo que dou.
Residências
antigas tem o costume de implantar medo e sempre nos faz duvidar em
acreditar ou não em assombrações, mas de um modo
ou outro, estou aqui, enfrentando e vasculhando, buscando por seu
calor. O escuro reflete contraditoriamente a vida que
tinha sua presença.
Lembro-me como éramos
apenas dois jovens bobos e apaixonados, nem importando com o mundo,
apenas verdadeira e profundamente acreditando na frase mais conhecida
dos contos de fadas: “felizes...”; mas eu sou apenas uma
adolescente qualquer de um bairro distante no meio da riqueza de seu
toque e da raiva de tantas noitadas embriagados. Onde, numa dessas,
você partiu.
Amando-nos na
incrivelmente grande cama no centro de um quarto tão bem
decorado e em ordem que recorda-me filmes dos anos 50, seus olhos
devoram minha alma e seus beijos entopem meu coração de
amo. A sensação é tão extrema enquanto
chocamos-nos que é como se uma faisca se acendesse em um ponto
de meu peito e se alastrasse por meus braços e pernas e mãos
e pés, deslizando por meus dedos até explodirem de mim.
Meu corpo vibra em sintonia com o sentimento e eu quero fazer o
momento durar eternamente. Infelizmente, é só um flash
de uma lembrança não tão distante, uma
recordação que nunca fará parte da realidade
novamente porque simplesmente partira sem mim... Para uma muito
melhor.
Bom, ao menos a dor
não é tão ruim, e nem mata. Pelo menos enquanto
ela ainda existia...
O que destrói
mesmo é o vazio, que me entorpece e enlouquece. Esse é
o motivo devastador que leva a ponta afiada e fatal desta adaga
arrancar-me sangue e dá-nos um fim.
Com felicidade, agora
sim, posso voltar a dizer e sonhar com o “...para sempre”.
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