quinta-feira, agosto 09, 2012

Refaço-nos






  As coisas tornaram-se turvas a minha volta, algo como uma neblina densa e branca impedia-me de ver perfeitamente as imagens que passavam voando por mim; imagens, que algumas reconheci como meu passado. -Aquela festa cheia de risadas e pisca-pisca, meu primeiro beijo, o dia em que conhecera uma amiga que costumava chamar de irmã, natal com a família na cidade maravilhosa- e em questão de segundos, voltara anos e anos atrás.
  Meus pés não alcançavam o chão de ardósia da antiga casa de minha tia. O sofá macio, onde estava assentada, cheirava a novo, aliás, tudo ali parecia muito novo, inclusive eu.
Fecho e reabro os olhos para os rostos que muito conheço e aqueles que vira apenas uma ou duas vezes, o barulho de palmas e todas as vozes juntas cantando Parabéns fazendo-me relembrar o porque de estar aqui; tenho de achá-lo.
  Claro, no lugar mais óbvio, escondido em um dos quartos, se entupindo de salgadinhos. Pela porta entre-aberta, o espio, sendo obrigada a soltar um risinho quando fica atrapalhado ao me ver observando.   Escorrego até sua frente, ajoelhando-me com as mãos miúdas sobre as pernas. Trocamos um olhar durante longo minuto, e ele não me parece apenas um garotinho comilão e bobo -na verdade, recorda-me muito o cara de 17 anos por quem me apaixonei, principalmente no modo como me sorri: aquele mesmo sorriso de canto, tão sincero e glorioso, que acho capaz de roubar o brilho do sol-. Estou então novamente entregue ao seu calor, afogando mais uma vez na imensidão castanha graciosa de seus olhos. Toco meu dedo indicador em sua bochecha, afastando o prato que nos separa e aproximando-nos ainda mais, finalmente perto o bastante para lhe beijar a bochecha, respirar fundo e sussurrar um doce "eu te amo", antes de sumir.
  Vejo novamente os anos pulando, rapidamente refaço-os. Recuso o primeiro beijo daquele cara e todos os outros; recuso as promessas impossíveis, os toques quentes, as festas, os erros; recuso tudo que não valha a pena, tudo que possa levar-me pra longe dele.
  Fogos de artifício decoram o céu e dou as boas-vindas a 2012.
Janeiro. Fevereiro. Março.
  Conheci-o, -aliás, reencontrei-  numa tarde quente qualquer, -com aquele mesmo portão e a mesma antiga amiga parada entre nós-, perdemos-nos novamente no mesmo olhar, -no fundo, nos achamos-.
Então passou. Os dias, semanas e meses. Primeiro o encontrei numa dessas redes sociais, e trocamos e-mails, histórias, links, gostos e sorrisos pela web. Depois, o encontrei numa dessas tardes, e rolou aquele fogo, aquela atração inexplicável levando-me a beijá-lo -dessa vez, acertando ao não levantar a cabeça-; e depois de todos os amassos, rolou aquela profunda respiração sufocada, quando se deu conta de quem eu era; e rolou outros beijos, outros olhares, outros risos; e rolou amor.  

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