As coisas
tornaram-se turvas a minha volta, algo como uma neblina densa e
branca impedia-me de ver perfeitamente as imagens que passavam voando por
mim; imagens, que algumas reconheci como meu passado. -Aquela festa
cheia de risadas e pisca-pisca, meu primeiro beijo, o dia em que
conhecera uma amiga que costumava chamar de irmã, natal com a
família na cidade maravilhosa- e em questão de
segundos, voltara anos e anos atrás.
Meus pés não
alcançavam o chão de ardósia da antiga casa de
minha tia. O sofá macio, onde estava assentada, cheirava a novo, aliás,
tudo ali parecia muito novo, inclusive eu.
Fecho e reabro os olhos para
os rostos que muito conheço e aqueles que vira apenas uma ou
duas vezes, o barulho de palmas e todas as vozes juntas cantando
Parabéns fazendo-me relembrar o porque de estar aqui; tenho de
achá-lo.
Claro, no lugar mais
óbvio, escondido em um dos quartos, se entupindo de
salgadinhos. Pela porta entre-aberta, o espio, sendo obrigada a
soltar um risinho quando fica atrapalhado ao me ver observando. Escorrego até sua frente, ajoelhando-me com as mãos
miúdas sobre as pernas. Trocamos um olhar durante longo
minuto, e ele não me parece apenas um garotinho comilão
e bobo -na verdade, recorda-me muito o cara de 17 anos por quem me apaixonei, principalmente no modo como me sorri: aquele mesmo sorriso de canto, tão sincero e glorioso, que acho capaz de roubar o brilho do sol-. Estou então novamente entregue ao seu calor, afogando
mais uma vez na imensidão castanha graciosa de seus olhos.
Toco meu dedo indicador em sua bochecha, afastando o prato que nos
separa e aproximando-nos ainda mais, finalmente perto o bastante para
lhe beijar a bochecha, respirar fundo e sussurrar um doce "eu
te amo", antes de sumir.
Vejo novamente os
anos pulando, rapidamente refaço-os. Recuso o primeiro beijo
daquele cara e todos os outros; recuso as promessas impossíveis,
os toques quentes, as festas, os erros; recuso tudo que não
valha a pena, tudo que possa levar-me pra longe dele.
Fogos de artifício decoram o céu e dou as boas-vindas a 2012.
Janeiro. Fevereiro.
Março.
Conheci-o, -aliás,
reencontrei- numa tarde quente qualquer, -com aquele mesmo portão
e a mesma antiga amiga parada entre nós-, perdemos-nos novamente no mesmo olhar, -no fundo, nos achamos-.
Então passou. Os dias, semanas e meses. Primeiro o encontrei numa dessas redes sociais, e trocamos e-mails, histórias, links, gostos e sorrisos pela web. Depois, o encontrei numa dessas tardes, e rolou aquele fogo, aquela atração
inexplicável levando-me a beijá-lo -dessa vez, acertando ao não levantar a cabeça-; e depois de todos os amassos, rolou aquela
profunda respiração sufocada, quando se deu conta de quem eu era; e
rolou outros beijos, outros olhares, outros risos; e rolou amor.
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